14 de abril de 2018

O Movimento

Nasce um novo movimento! Um cerco em favor da diminuição da
desigualdade econômica. Dizem os seus mais sinceros entusiastas que ninguém pode concordar com que poucos tenham muito e que muitos tenham nada. E eles renegam a si o epíteto de meros metafísicos do arranjo social; são mulheres e homens práticos. Estão eles, então, criando a caritativa Associação do Iconoclastas do Apartheid Econômico-Social - um belo e impactante nome. Estão, assim, tomando duas medidas práticas, a saber:

A primeira é a elaboração de um poderoso documento coletivo - que não cabe explicar aqui - em que os signatários do providente libelo se comprometem, sob pena de lei, a destinar todo o excedente imoral, perante a fome que devora o mundo, a que cada um tem direito nos ganhos de sua profissão, para a consecução de tão prestimosa tarefa. Ficarão eles apenas com o suficiente moral para a própria e moderada sobrevivência. Todos se comprometem a viver, independentemente do que façam - afinal, muitos deles vivem como políticos, professores, jornalistas, artistas, entre outros misteres, bem assistidos de posses - com, no máximo, três salários mínimos, posto que exceder tal limite, contra quem sequer um dos três pode ver, é transpor os limites da vergonha humana, ou de sua própria desumanidade. Todo o resto de seus ganhos será declinado, de maneira linear, a favor da justiça e dos menos favorecidos, objeto de sua mais apaixonada defesa.

Uma segunda medida, complementar, que saca a todos estes, os mais sublimes dos humanos, do conforto das palavras e os conduz ao vale da vida prática, é a criação de um fundo contra a pobreza, no qual todos que, por alguma razão, não assinarem o contrato acima poderão depositar os vergonhosos excessos de seus ganhos em uma conta bancária humana e universal, cujo número adiantamos aos defensores mais apressados da causa: 000-000-00-X.

Não perca tempo, procure se informar a respeito e comece já sua participação nesse inexpugnável levante de distribuição de recursos materiais entre os homens; que não se esguelha em cobrar qualquer contrapartida que não seja ver todos com amplo acesso ao amor, em especial, o dessas singelas pessoas que se recusam a falar, preferindo agir, e fazendo questão de começar pelo próprio exemplo.



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