8 de abril de 2018

A prisão de Lula e, pensando no futuro

Desde a deflagração da crise política e moral que passou a ser conhecida como “Mensalão”, em que se desbaratou um esquema de corrupção orquestrado pela batuta do ex-chefe da Casa Civil do governo petista, José Dirceu, os brasileiros passaram a acompanhar o progressivo degringolar do stablishment político do país.

Em uma sucessão de eventos que se precipitam com as duas eleições de Dilma, que teve de enfrentar a herança maldita deixada por Lula, fruto da gastança desenfreada e do aparelhamento do Estado, parte para atender à agenda do que a esquerda política costuma chamar de movimentos sociais e para acurar a corrupção sistêmica, parte para atender à megalomania previsível a quem sempre foi tratado como supra-humano (o tão sonhado Deus é brasileiro), e que tem seguimento com a derrocada da economia, com a crise do “Petrolão” - que viria a se tornar o âmago da Operação Lava-Jato -, com o novo protagonismo do povo, que tomou as ruas, e que culminou com a derrubada do governo petista, passamos a assistir a acontecimentos antes assustadoramente estranhos, cujo destaque se dá para a prisão dos poderosos da república, seja do meio político, seja do meio empresarial.

Ontem, 07 de abril de 2018, apesar de todas as dificuldades e protelações, essa marcha chegou ao que bem pode significar seu marco definidor, com a espetaculosa prisão de um ex-presidente, por crime comum, algo inimaginável até o início de todo esse stargate.

Nossa república e nossa democracia, que nunca se firmaram em maioridade, estão cambaleantes como nunca, é verdade, mas fatos assim renovam a esperança do povo brasileiro de que realmente esteja ela em um momento de ruptura com as velhas práticas de gestão da coisa pública, nas quais responsabilidade e compromisso com o país estão muito abaixo dos interesses pessoais e partidários. Obviamente, embora um bom começo, o Problema Brasil não tem a mínima chance de solução apenas prendendo-se os corruptos, o que pode exigir a construção de muitas cadeias apenas para esse fim, dada a extensão desta praga, que se espalha por gabinetes, câmaras e palácios de todas as instâncias da administração pública. Há corrupção desde a gestão de pequenas associações, sindicatos, escolas, hospitais, universidades, prefeituras, se estendendo por todas as esferas, até alcançar o centro maior do poder em Brasília, colocando sob suspeição, inclusive, parte do judiciário, da própria polícia e até do exército. Não restam dúvidas, a corrupção é o esporte número um do Brasil; deixa no chinelo o futebol e as pernas finas do Neymar. Só não supera a paixão pela Bruna.

É com um misto de alegria pelo Brasil, e de tristeza pela cena, e em ver ruir a esperança, sem fundamentos, que muito tiveram quando apearam ao poder o partido da esquerda radical. Eu mesmo, nos anos ainda mais tolos, ajudei a criar o problema. Penso que senhores, em especial daquela idade, tem mais é que se dedicar a ler e a brincar com os netos, mas Lula é político demais pra ter tanto tempo para as duas tarefas. Além do mais, é preciso pensar no país e nos milhões que necessitam e que sofrem à espera (cada dia menos quietos) de que ele um dia dê certo.

Quando chamo de espetaculosa a prisão, uso de um certo eufemismo, porque, na verdade, foi um baile de malandragem e de politicagem oportunista e populista que o PT deu em cima das autoridades e da aspirante a república. Em queda livre, ainda conseguiu colher umas goiabas, que guardou nas calças, para comer pandegamente, se conseguir transpor a cerca.

Mas não se pense, porém, que o barulho vai acomodar. Está só começando. E, com a lista de celebridades do crime que ainda restam na fila, com os juízes da corte suprema querendo manter-se como tribunos políticos, monarcas ou, pelo menos, núncios verborrágicos, para que nós, o povo simples, nos recolhamos à nossa insignificância semântica e metafísica, difícil vai ser segurar a jurisprudência e assegurar todo o rito de passagem que o Brasil tem de enfrentar, se quiser deixar de ser o eterno país do amanhã.

Tem muita coisa e gente envolvida nesse que parece ser um processo de depuração do país, mas cumpre ressaltar que o destemor dessa nova geração de procuradores e juízes tem se mostrado fundamental para essa transformação. Parte da esperança dos brasileiros está depositada nesses jovens comprometidos com destruir o pernicioso determinismo aparentemente incontornável; jovens que, desrespeitosamente, vez por outra, são chamados de moleques. Uma contradição que apenas ressalta o seu valor.

Que o trabalho de passar o Brasil a limpo continue a todo vapor, porque o apoio da sociedade civil ele tem; amplo e quase irrestrito. Apenas quem de algum modo teve sua consciência capturada se opõe a ele.  Não queremos nem esperamos que ele seja estancado, ou se dê seletivamente, o que exige, por exemplo, a extinção do foro privilegiado, preservando o direito à livre expressão de pensamento dos atingidos; uma tarefa percuciente e realizada amiúde, configurando-se como a nova regra, porque, como vemos, corrupto e formiga no Brasil são o que não falta.

No horizonte, vemos ainda aproximar-se outro momento da maior importância. Não! Não é à Copa do Mundo que me refiro. Estou falando das eleições de outubro. Essa é a hora de o povo entrar em campo, determinado, e com uma tarefa notável a cumprir: expulsar o máximo de corruptos que puder da política nacional. Eu diria que a resposta para o Brasil continuar alimentando a esperança de dias melhores pode principiar por ser encontrada no lema do seu próprio estandarte: ordem e progresso.

É apenas uma questão de lógica. Precisamos de ordem. Depois podemos pensar em progresso. O inverso já provou que dá errado.


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